Uma Epígrafe
"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]
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Caminho Velho da Várzea
Aqui passavam tropeiros
Com récuas de burros-mulos
(Assim contaram os vates)
Que eram semitas, turcos,
E moçárabes, os mascates.
Paravam em frente das casas
à sombra das cajazeiras.
Sentavam-se, os almocreves.
Bebiam água, os escravos
E as mulas descansavam,
Cangalhas pensas, dos fardos
Pejados de bugigangas:
Pentes, mariolas, marrafas;
Trancelins, água de cheiro;
A manteiga de garrafa;
Chumbo para soca-soca,
Munição pro parabelo.
Moças rodeavam a tropa,
Sorrisos engalanados
E as mães cheias de cuidados
Por vê-las a escolher meias,
Espartilhos e anáguas;
Pra não dar com os burros n’água
Os sonhos de casamento
Com os moços brancos e ricos
Lá do Engenho São Francisco.
Querem usar o sobrenome
Lacerda, depois do nome,
Na filha que se casar...
Mas a um grito do judeu
Que agitou a matraca
A tropa se alevanta.
Um burro-mulo se espanta.
Segura o bicho, meu Deus!
Quis correr, mas foi contido
Por um dos homens retintos
E aos outros foi se ajuntar
Que é hora de caminhar
E sair do Engenho do Meio
E é até bom se apressar
Que o céu vai ficando feio
E um toró vai desabar...
Chove muito nessas bandas
Fica o caminho empoçado
Muito ruim de atravessar
Por dentro da lamaceira
Pode algum burro empacar.
Adeus, senhoras, mocinhas,
Desse tranquilo arruado,
Se eu não fosse casado
Por aqui me casaria
E meus dias findaria
Nesse solo abençoado.
Vou-me embora lá pra Várzea!
Volto lá pro fim do dia,
Quando for noite nas casas,
Dessa ilustre freguesia,
Mode ver os candeeiros
E o velho fogão de lenha
Com a tanajura no fogo,
Pra se comer com farinha.
De tarde eu passo, meu povo!
Quero levar do mé novo
Que vem da roda da azenha
Lá na margem do Cavouco!
Por mim, eu ficava um pouco
Mas o trabalho me chama
Deixo uns perfumes pras damas
Uns turbantes pras mucamas
E chapéus pros meus amigos.
Adeus, adeus, que já sigo!
(lentamente a tropa avança
e, ao longe, ainda se ouve
o ruído da matraca...)
(cantiga de Lula Eurico)