CANTEIRO DE OBRAS:

domingo, dezembro 26, 2010

PASTORIL (dança sem corpos)









































Quando tiverem conseguido um corpo sem órgãos, então o terão libertado dos seus automatismos
e devolvido sua verdadeira liberdade.
Então poderão ensiná-lo a dançar às avessas, como no delírio dos bailes populares e esse avesso será, seu verdadeiro lugar. (Antonin Artaud)





Convoquem-se os doutorandos pra dançar,
enquanto é dia...
Cantem-se os cânticos aurorais.
Dancem-se as danças circulares...
Que falem as crianças, os doidos e os poetas,
num intraduzível canto sem métrica,
à claridade, aqui, ali, à claridade,
enquanto se pode achá-la!


Dias virão em que fugiremos pros montes
com pavor de nossos filhos e filhas.
Eles já não nos ouvem e falam um dialeto de autistas,
um poderoso discurso para iniciados.
Salvem-se os jovens dessa seita academicista,
em que se untam de poder e de verdades.




Quando criança eu falava com as gramíneas,
com as formigas, com os insetos do quintal.
Estávamos entrelaçados, minhas raízes e eu.
Meus pais riam disso.
Doidices de crianças, diziam.


Loucura e poíesis, digo eu.


As crianças dessa nova era
estão tomadas por estranha terminologia,
e já não brincam como dantes.
Antes, fabricam-se modos de ver, de pensar, de existir.
O imaginário foi engarrafado.
Envazadas as enunciações poéticas
e as artes, em um discurso de infalíveis.


Urge que se convoquem os jovens doutorandos pra dançar,
sem corpos e sem órgãos,
Dançar deliricamente...
Em transe, com gritos primais.


Urge que cantem as crianças, os doidos e os poetas,
num intraduzível canto sem métrica,
à claridade,
Aqui, à claridade,
enquanto se pode achá-la!




Imagem:
Pastoril na Várzea - Recife
Dezembro/2009

3 comentários:

  1. A imagem parece um tela, e não sendo poderia dar uma bela tela.

    E as crianças realmente vivem diferente da nossa época de criança.

    Um forte abraço.

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  2. Eurico
    Realmente "urge que dancem as crianças, os doidos e os poetas"!
    Urgências das mais absolutas...
    Lindos os seus versos!
    Demais.
    Abraço, amigo!

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  3. Urge que cantem as crianças, os doidos e os poetas... urge que cantem nossos desejos de amor... urge que em círculos vivamos.

    Um beijo

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