CANTEIRO DE OBRAS:

domingo, maio 04, 2008

Mitopoese IV: Tubal-Caim




Gênesis IV, 20-22



I
Acordo cedo
e acendo a forja.
Sopro-lhe vida,
a plenos pulmões.
Espanco a peça
na qual trabalho,
com marteladas
(nietzcheanas?)
numa bigorna.
Minha obra, arranco
da impura gusa,
p/arte abstrusa,
que, esbraseada,
quer ser forjada.
Por isso luto,
tarefa insana,
(opus alchimicum?)
contra a matéria
bruta, que em brasa,
cresta minh’alma,
na lavra lenta
das raras peças.
Eis o motivo
da obra escassa.

II
Como eu invejo o artesão da palha,
Fácil manejo, nas mãos, na mente.
Dedos velozes dançam nas tramas,
trançando em ramas o todo e a p/arte.

Também invejo o cantador de motes,
aquele da poesia num repente,
que embola versos agalopados,
deixando boquiabertos os feirantes.

E os cordelistas, pluviosos vates,
gosto de vê-los, nas rimas tantas!
Fazem chover versos aos milhares.
Canções de gesta, como enxurradas
que invadem ruas, feito as enchentes.

Ai...se fosse assim meu árduo ofício...


III
Lavoro às chamas, queimando em febre,
tisnada a pele, olhos ardentes.
Lavro a escória do ferro gusa,
com essa pa/lav(r)a quase vulcânica,
Logos brasil,
Verbum incandescente,
Léxico de hermética metalurgia.

Eis minha sina, eis o meu fado,
(e com que enfado vos digo isso):
fundir a gema, pétrea e absconsa,
(e o Transcendente está nessa Idéia),
entre o crisol e a crisopéia.



IV
E então desperto
o mistério disso:

Acordo cedo,
bem de manhã,
e acendo a forja
d’alma louçã.
Lutar com as pedras,
Luta mais vã...



Eurico
metapoema sem data


20 E Ada deu à luz a Jabal; este foi o pai dos que habitam em tendas e possuem gado.
21 O nome do seu irmão era Jubal; este foi o pai de todos os que tocam harpa e flauta.
22 A Zila também nasceu um filho, Tubal-Caim,
fabricante
de todo instrumento cortante de cobre e de ferro; e a irmã de Tubal-Caim foi Naama.
poema dedicado aos poetas itabiranos, Euza e Drummond
***

7 comentários:

  1. Meu cumpadi, primeiro de q tudo vc perdeu o niver de dona Iolanda! Segundo: ao ler o teu poema, (q vc não datou, mas sei q é de hoje mesmo, e só por isso perdôo tua ausencia no niver), bem, ao ler o teu poema me veio à mente a velha frase q jah te disse em mesa de bar,mil e uma vezes:
    "o escritor é um leitor que enlouqueceu"
    Vc é um deles! rsrsrs
    Vide o engenhoso fidalgo cervantino, leitor de livros de cavalaria, que pirou e foi lutar contra os moinhos de vento...rsrsrs
    Tu vai ficar doido, cumpadi.
    kkkkkkkk

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  2. A poesia prescinde de comentários. Mas poemas assim, nascidos do laborioso trabalhar das palavras, merecem uma tese. E a Euza, esta que pegou carona na fama e terra de Drummond, reverencia e agradece ao poeta pela beleza do presente, pelo carinho do amigo. Beijo e beijos.

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  3. Em resposta ao comentário do compadre Carlinhos do Amparo,
    que me aponta a loucura do Quixote-leitor, que julgo ser a mesma
    do Cervantes-leitor, apresento o poema abaixo, em que está explícita a loucura de Dom Sebastião, que deve ser a mesma do poeta-mor, que assina a obra:

    Quinta/d. Sebastião,
    rei de Portugal
    20-02-1933


    Louco sim, porque quis grandeza
    Qual a sorte a não dá.
    Não coube em mim minha certeza;
    Por isso onde o areal está
    Ficou meu ser que houve, não o que há.

    Minha loucura, outros que me a tomem
    Com o que nela ia.
    Sem a loucura que é o homem
    Mais que a besta sadia,
    Cadáver adiado que procria?

    Fernando Pessoa
    in Mensagem

    P. S.: a amiga Loba é generosa e merece a dedicatória no blog, pq me instigou a escrever esse poema.

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  4. Meu Deus!
    fico meio perdida em meio à maestria dos seus versos. Da complexidade das marteladas nietzcheanas? à simplicidade do artesão que trabalha sua palha, a luta com as pedras,
    será pela palavra.
    Isso me faz lembrar um verso do poeta Dauri Batisti que diz:
    "Retornei no alvorecer com essapalavra que lá talhei
    com sopros e respiros suaves e outros profundos
    na pedra menos áspera que encontrei"
    Acho que isso resume o meu comentário.
    Um abraço
    Jacinta

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  5. Nossa, poeta! Você e as palavras... Palavras lavradas, manejadas, acendendo forjas e soprando vidas. Este é um poema maravilhoso, Eurico. Eu, na verdade, não sei nem como comentá-lo. Contemplo-o tão somente. E admiro você.

    Com carinho
    Ilaine

    Amei sua visita no baú. Obrigada.

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  6. a vinda aqui, vale pela música e pelos textos.
    MT BOM!
    bjs do outro lado do hemisfério
    a.

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  7. Ainda bem que te adicionei aos meus favoritos. Nossa que bela poesia.Tocou fdundo! Hoje fiz postagem nova,apareça por lá, será sempre muito bem vindo.Um abraço

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