CANTEIRO DE OBRAS:

quarta-feira, março 28, 2012

DELÍRIO EM AZUL






















Quando Ela nos alcança, cadavérica e terrível,
De nada adiantam as especulações ontológicas,
A teleologia
ou
a incognoscível redução fenomenológica;


Nada nos salva,
nem mesmo a transubstanciação eucarística.


Ela chega destruindo toda ciência,
toda consciência.
Ela ressoa no cerne mesmo
daquilo que os saciados chamam alma.


Aos poucos Ela invade o núcleo das células,
que se vão devorando umas às outras,
fugindo da inanição.
As sístoles e as diástoles se atropelam.
A Razão fraqueja.


E o Ser começa a delirar na cor azul.


Porém, quando Ela nos alcança,
o sentido profundo da vida se revela,
em imperiosa e urgente concretude,
pois Ela não falseia a realidade.
Ela é a coisa mais pura e verdadeira:
A Fome, quando chega, não ilude.








 Fonte da imagem: FOME EM ÁFRICA




Para carpir, (ou penitenciar-se, se preferes): Lacrimosa, de Mozart

ou Chico Buarque - Brejo da Cruz:

5 comentários:

  1. quando ela chega indevassável com suas garras de agonia, nada há que se alcance a alforria: a fome azul consome até o céu



    abraço

    ResponderExcluir
  2. É, Eurico!

    Existe a fome dos que nada tem para comer, e a outra fome dos que tudo tem e não podem saciar o organismo.

    Lindo!

    Beijos, POETA!

    Mirze

    ResponderExcluir
  3. Nossa! Já conhecia a imagem ganhadoras de um grande prêmio, entretanto seus escritos foram mais chocantes....


    Muita paz!

    ResponderExcluir

Grato pelo comentário. Receba o meu abraço fraterno e volte sempre!