CANTEIRO DE OBRAS:

domingo, julho 03, 2011

CEIA
























Assentados à mesa
repartem o peixe mitológico
(mil anos os espreitam das escamas carcomidas)
Mil olhos
Mil’entes
Ante a mesa posta, verbofágicos,
os comedores de palavras
― ceiam ázimos
― bebem verbo
― gestam lácteas estrelas.
Vejam-me d’entre eles,
meus múltiplos eus e eu,
afiando essa faca ineffabille,
repartindo, nesse médium volátil,
Esse pães guturais...



Eurico
Pina (Recife-PE)
06/11 /1995

poemeto dedicado ao amigo artista-plástico Eugênio Paxelly
e a todos os amigos do antigo Grupo Arrecifes.



Fonte da imagem:

http://betebrito.com/wp-content/fgallery/figurativo/fossil.jpg


Deguste, ouvindo Reverie, de Claude Debussy

4 comentários:

  1. Que poema fascinante! Uma verbal companhia. Vivemos imersos, e não nos damos conta, nesse processo de transubstanciação pela palavra.

    Permita-me trazer aqui um poeminha meu, por natural evocação:


    COMUNHÃO

    Vinde palavras,
    Vinde
    Para esta ceia.

    Comei deste pão,
    Minha razão.

    Bebei deste vinho,
    Meu inconsciente.

    Assim saciadas,
    Alguma dentre vós
    Ainda
    Há de me trair?

    Grande abraço.

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  2. Te leio, e colho bons espantos, sempre inovas, sempre surpreendes e por isso estou sempre por aqui...

    Um beijo grande e desejo de boa semana.

    Carmen.

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  3. Caro poeta!

    Embora não convidada, participo de todas as ceias mitológicas.

    Bom mesmo é vê-la descrita nessa beleza lírica!

    Beijos

    Mirze

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  4. Ah...
    esta Ceia com Reverie alcança uma particularidade especial,
    os preciosos espaços brancos quando a noite dorme para ocultar-se.
    Eu leio, ouço, leio, silencio, ouço, leio ...e agradeço.

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