CANTEIRO DE OBRAS:

terça-feira, setembro 28, 2010

Florada






















Não olvideis, no entanto,
desses nichos vocálicos, minúsculos,
que, a um canto, oclusos,
roem o instante...

Eis que eles brotam dos sais,
monossilábicos ais
e alçam, em inesperados tons,
suas asas, brevíssimas, bilabiais.
Pululam, palpáveis sons,
mantras zen, interjeições...

Olhai os insetos do céu...

E não olvideis desse mel,
mimético mel, volátil,
tão metonímico mel.

Volvei as vistas ao léu:

borboleteiam abelhas,
com favos novos, verbais,
zumbidos consonantais,
arbitrárias uruçus,
em aglutinantes colméias
melífluas onomatopéias,
in/significantes zunzuns.






Fonte da imagem:
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNlrlrpro9JGvn3USMdia_JZ7Eyv0h4gk1saWmJ0anFgGfpwa1Fff8xJuT5eMPGKMPuDq2U1jm4UqHK_D1B3gXPwR91WMrtZDUFTj0GfKAZkMUt9g4MaH9lIYOLUvX9df9eXIR4Q/s1600/abelhas-e-favos-f6b46.jpg

12 comentários:

  1. Quanta suavidade, Eurico ! Delicia te ler :) Abrs fraternos

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  2. consegues uma bela sinfonia com as palavras,


    abraço

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  3. Yvy, que bom ter vc aqui.

    Abraço fraterno.

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  4. Assis,
    é disso que se tratam os objetos estéticos que aqui tento fabricar. Objetos verbais, mas que transcendem o literário, enveredando pela musicalidade. Em outras palavras, exploro os fonemas, os estímulos sonoros, antes de buscar o semantema. E que deles escapem sentidos, calcadods no ritmo, na eufonia, na melodia...rsrsrs
    Mas tergiverso,
    deixemos por aqui esse comentário.

    Abraço cordial.

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  5. que belo....e que saudades de vir aqui...

    beijos com meu carinho,

    Bia

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  6. Se percebe essa coisa meio música. As aliteracoes, assonancias, e rimas "dancantes" (ais, ais, bilabiais rs).
    Isso meio que aumenta o prazer de ler.

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  7. Vidal, meu irmãozinho,
    bom te ver.
    Fica à vontade pra musicar esse daí. rsrsrs
    Essa é uma série "bolha de sabão", bonita, mas oca. Pelo menos é essa a intenção. O belo pelo belo. Não há temas. Há morfemas, fonemas e só. Porém, alguma beleza há de ter nisso...rsrsrs

    Abraço fraterno.

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  8. Lembrei de Caetano Veloso e Waly Salomao:

    "Ó abelha rainha, faz de mim
    Um instrumento de teu prazer
    Sim, e de tua glória
    Pois se é noite de completa escuridão
    Provo do favo de teu mel
    Cavo a direta claridade do céu
    E agarro o sol com a mão

    É meio-dia, é meia-noite, é toda hora
    Lambe olhos, torce cabelos
    Feiticeira vamo-nos embora
    É meio-dia, é meia-noite
    Faz um zum na testa, na janela
    Na fresta da telha
    Pela escada, pela porta
    Pela estrada toda afora
    Ânima de vida
    O seio da floresta amor empresta
    A praia deserta zumbe na orelha: concha do mar
    Ó abelha, boca de mel
    Carmim, carnuda, vermelha
    Ó abelha rainha, faz de mim
    Um instrumento de teu prazer
    Sim, e de tua glória"

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  9. Não há como escapar da intertextualidade, mesmo que inconsciente. Estamos no mesmo território lexical, envolvidos na mesma teia, e zumbindo na mesma colméia.
    Mesmo assim, não me comparo ao genial filho da dona Canô. Salve a Bahia!

    Minha intenção é a bolha de gás, o poema-bolha, cheio de ar, o poema inutilidade, pelo simples prazer de poetar. rsrsrs

    "Na arte pela arte a vida banha-se de felicidade." (Ortega y Gasset)
    E eu escapo do utilitarismo que há em tudo, nessa selva consumista e autodestrutiva.

    Viva Deus que pequeno sou eu!

    Abç.

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  10. Eurico a mãe natureza deve sorrir ao teu poemar, uma beijo amigo e carinhoso.

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  11. Carmen, poetamiga,
    deve sorrir sim, a mãe-natureza, dessa minha tentativa baldada de produzir mel...rsrsrsrs
    Aliás, produzir mel com material não-melífero.
    Isso é o que dá trocar a mãe, a original e pura, pela madrasta, mesmo que "boadrasta", que é essa segunda natureza (chardiniana) em que fabricamos poemas, utensílios e essa multidão de quinquilharias inúteis e supérfluas, que julgamos "necessárias" para a existência humana... rrsrs

    Abç fra/terno

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  12. Eurico, um poema-nectar...

    Que tenhamos sempre desse mel!

    E sabes, o poema é lindo como colmeia, mas há um verso que me deixou extremamente encantada:

    "suas asas, brevíssimas, bilabiais."

    O que dizer?
    Só me lambuzo...

    Abraços de asas!

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Grato pelo comentário. Receba o meu abraço fraterno e volte sempre!