CANTEIRO DE OBRAS:

quarta-feira, novembro 12, 2008

Lirismo reflexivo: Pessoa (poema de 1931)



























Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.

Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.

És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.

Fernando Pessoa
1931



Img do gato na rua:
Clique de
Tania Estrompa

Fonte:
http://img.olhares.com/data/big/104/1049298.jpg

2 comentários:

  1. Poeta, poeta!
    Estas suas últimas postagens são um mergulho profundo na existência.
    Eu sei, refletir é preciso. Mas pro meu relógio, parente deste do Cassiano Ricardo, cada minuto é mais e mais e mais. E é neste mais que mergulho minha sede de vida, viu? rs...
    Beijo queridão!
    Ah... obrigada outra vez pelas palavras generosas que me fazem tão feliz!

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  2. Pessoa é inigualável! Desconhecia esse poema, faz refletir mesmo!

    Me fez lembrar outra de Ferreira Gullar:

    O gato é uma maquininha
    que a natureza inventou;
    tem pêlo, bigode, unhas
    e dentro tem um motor.

    Mas um motor diferente
    desses que tem nos bonecos
    porque o motor do gato
    não é um motor elétrico.

    É um motor afetivo
    que bate em seu coração
    por isso faz ron-ron
    para mostrar gratidão.

    No passado se dizia
    que esse ron-ron tão doce
    era causa de alegria
    pra quem sofria de tosse.

    Tudo bobagem, despeito,
    calúnias contra o bichinho:
    esse ron-ron em seu peito
    não é doença - é carinho.

    Ferreira Gullar
    Poema do livro
    "Um Gato Chamado Gatinho"



    Bjs e obrigada pela visita, sempre bem vinda!

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