CANTEIRO DE OBRAS:

quarta-feira, novembro 26, 2008

Dilúculo (impressões)





















...a noite, ou o signo da noite,
esse envoltório, invisível e volátil,
cinge as coisas em derredor...

...nada faz sentido sem o envoltório
in(di)visível da palavra.
Nada.
Nem a escuridão da noite.
Nem mesmo a fugaz antemanhã...

...jamais serão pardos os telhados
dos pardieiros, sem o anúncio das gentes.
E o que dizem as gentes dos telhados pardos?
Dão vivas à revoada das aves na alva?
Ou aborrecem o arrebol,
esse vocábulo em que lucilam sombras?

Os pardos.
Os pardieiros.
E os padeiros.
Eis os que se insurgem contra as trevas,
a dividir o pão nas entrelinhas da madrugada,
grávida do dia-na-noite.

Eis os que despertam quais perdidos pardais....no impreciso Dilúculo.
Lê-se essa palavra (in)pávida,
claro-escuro,
lusco-fusco...
Bela,

enquanto bruxuleia
nas estepes do terrunho dicionário
em que hão de vir pascer os rebanhos da aurora.

Amanhece...

A palavra aflora, agora?
Ou passa a impressão
de quase manhã...











Fonte das imagens:
1) Vincent Van Gogh - Noite
http://sunsite.utk.edu/FINS/Knowledge_Organization/gogh-1.jpg

2) Claude Monet - Impressão, Sol Nascente, 1872
http://br.geocities.com/maritp31/monetsol.jpg

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8 comentários:

  1. Cada palavra no seu lugar, cada som, cada cor. Impressões que ficam, sem dúvida, no coração de quem lê. E as estepes, não as do dicionário, mas as da alma, se iluminam de um clarão.

    Abraço.

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  2. Excelente!
    Brincadeira?
    Beleza poética, poeta-puro.

    Abraços.

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  3. Meu Deus!
    fico aqui, apreciando sua arte, admirando sua entrega, sua intimidade com a palavra. Bonito de ver. Bonito de sentir.
    Abração

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  4. Que poema, hein?
    Depois de lê-lo, só me resta desejar firme que pardos e pardieiros tenham cada vez mais direito, não apenas ao dilúculo, mas a todas as tardes, noites e vidas!
    Beijo, poeta!

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  5. É que o amanhecer precisa amanhecer.
    Cadinho RoCo

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  6. A generosidade de vcs, amigos, Dauri, Mai, Jacinta, Loba e Cadinho, me proporciona esses afagos virtuais, motivo, talvez, para que eu continue a cometer esses poemas.

    Dauri: vc se tem iluminado com sua peregrinação xamânica, seu caminho de Santiago feito em poemas!

    Mai: vc é a poeta mais pura que tenho lido no momento. Vc é a novidade para os meus sentidos de poeta. Vc e o Dauri. Ah...mas há uma brincadeira com o Aurélio, isso há. rsrsrs Com o Aurélio e com o dicionário do Word. É maravilhos. Ele é quase um poeta! Basta ajudá-lo. Esse Word é demais. rsrsrs

    Jacinta, blogueira com nome de flor e dona de um oásis chamado Florescer: desde os 10 ou 12 anos que me entrego à Palavra. Não tenho outro mérito do que essa entrega de 4 décadas. Grato.

    Lobíssima: é isso mesmo. Há o desejo de um amanhecer para todos, principalmente para quem divide o pão fraternamente, seja rico ou pobre, índio ou crioulo. Mas vc me conhece demais, minha Lobamiga.

    Cadinho: grato pela tua visita. Vo já lá te ler. Abraçamigo.

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  7. Eurico, voltei prá agradecer a tua adesão ao Inspirar.

    És um exagerado.

    Mas agradeço-te o incentivo.
    Carinho.

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  8. Mai, alguém disse (acho que foi o Vergílio Ferreira, não lembro bem) que diante de uma obra de arte o sujeito só tem duas atitudes possíveis, que independem de gosto ou de nível de leitura: a adesão ou a não-adesão.
    Portanto ao aderir ao teu estilo, ou seja, me identificar com ele, obedeço a algo muito mais forte e profundo do que o que dizem os meus sinceros, mas humildes elogios. Aderi ao teu texto, como ao de Dauri, ao estilo leve e solto, mas não menos belo da fraseologia da Loba, ao lirismo-reflexivo da Dora Vilela e ao texto incendiário do Luís Eustáquio Soares. Fazer o quê?
    Aderi e pronto! rsrsrs

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Grato pelo comentário. Receba o meu abraço fraterno e volte sempre!