
(evocação tardia e quase censurada pelo próprio autor, rs)
Outrora, eram os epicuristas,
que ensinavam aos helenos
a arte do bem viver.
Sem falar dos hedonistas,
que em Grécia se compraziam
com a delícia de ser;
já nesses tempos primevos
se admiravam os mancebos,
os tais valentes efebos,
da arte de guerrear.
Agora, os existencialistas,
cuja oportuna malícia,
diz o povo, é escolher
viver do hoje as primícias,
sem se ocupar do amanhã,
vinham à cidade Maurícia
ver um novo efebo na liça,
com uma alegria louçã.
A sensação era Lolita,
a lidadora temida,
que desancava a polícia,
com seus murros de marrã.
Diz que a zona portuária
pertence aos gregos mercantes,
ianques e coreanos,
capitães de longo curso,
aos marujos, aos maganos
e aos ratos de convés.
Mas todos temem Lolita.
Ele é a rainha, é quem dita
a lei, nesses cabarés.
Já fui moleque e arteiro,
e, curioso, na rua
de Nossa Senhora da Guia,
ia ver calçolas quarando,
nos balcões dos pardieiros...
Deus me livre dos pecados da rua do Bom Jesus!
Da difícil-vida-fácil, nos bordéis, à meia-luz.
Corpos despidos das putas,
bem na Vigário Tenório!
Com tanta mulher bonita,
um velhote em suspensórios,
se babava por Lolita...
-- Vôte! Que nem Freud explica!
Não sei se me engano ou não,
mas oiço a voz esquisita
do Liêdo Maranhão.
***
Fonte da imagem:
Bordel - Di Cavalcanti
in Jornal da Besta Fubana
Parecia que eu estava lendo um cordel ou ouvindo um desafio de repente. Tu não vais acreditar, Eurico, ontem eu estava estudando um texto em Freud, e não sei como, desencavei Lolitas.
ResponderExcluirRua da Guia, né? Com efeito!!!
É a vida pulsando, Eurico, buscando vida na memória. Adorei!
Um abraço e um sorriso
Confesso que sorri, identifiquei pontos totalmente reais... Foi ótimo ler isto.
ResponderExcluirAbraços