CANTEIRO DE OBRAS:

terça-feira, março 24, 2009

Sonata para o Dr. Alzheimer (1º mov.)





















Não ajunteis tesouros na terra...
Mt 6:19


Toda memória é argêntea.
Subterrânea.
Nela não há oiro.
Inúteis, pois, os tesouros sem mapa...

De que adianta a filha
E essa multidão?
Agora tudo é ilha.
E todo o esforço é vão.

Um fado inesperado.
Sim, uma velha música distante.
E estar exausto.

Toda memória é argêntea.
Caverna silenciosa e erma.
Inúteis, pois, os movimentos.
Não há mais oiro algum.






14 comentários:

  1. O jeito lusitano com que você escreve estes versos tem dado a eles uma beleza extra.

    Abraço.

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  2. Eurico, as vezes ficamos de mãos atadas, temos que acreditar em forças superiores e pedir serenidade para ajudar com as nossa ações.

    abraços para você e Kelly

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  3. Dauri, amigo, vc sempre descobre algo nos meus textos. Prezo os arcaísmos, sim. E certa construção ao modo luso. Mas, nesse caso, o arcaísmo remete à memória (da palavra) e da pessoa a quem dedico o poema. Vc captou bem demais.

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  4. Paulinha, vc q conhece a história de perto, sabe o q tento expressar com esse texto tão doloroso pra mim.
    Abraçamigo e fraterno.

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  5. Eurico, dor transfigurada em arte, é arte. Que belíssimo poema.
    Abraço
    Gerusa

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  6. Expressar o sofrer assim, de um forma tão bela...
    Que a poesia faça companhia no seu tempo de introspecção.
    Beijo

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  7. Meu amigo, Lindo e triste, profundo...
    Gosto da forma como você escreve, como se expressa...

    Beijão!!!!

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  8. Olá Eurico, passamos quase ilesos pela seg...estamos quarta, mas dessa dor destaco este trecho...por ser ilha...
    "De que adianta a filha
    E essa multidão?
    Agora tudo é ilha.
    E todo o esforço é vão".
    Um abraço na alma...valeu pela visita...

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  9. Plasticamente BELO... E argênteo, o sabor... Sem comentários mais, GRANDE POETA!

    PAX ET BENE, Cumpadi!

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  10. Prof. Diógenes, bondade sua, mas se com 1,69m de altura se pode ser chamado de grande...rsrsrs Brincadeira.
    Aceito só o poeta, que pra mim significa "fazedor", aquele que faz, vide poíesis.
    Abraçamgo e fraterno.

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  11. Linda inquietação, Eurico !


    Abr.fraterno. Yvy

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  12. Sempre há dor na ausência... Estranhamente o 'desgoverno' da memória nesse caso, é mais doloroso para quem está fora. Porque a quem a memória 'desabita', é criança outra vez...

    Eu li há pouco que há momentos em que a diferença entre o berço e a lápide, é muito tênue...Isto nos deixa impotentes.

    Mas sobre a lusofonia em teus poemas, eis aí uma reverência que te faço.
    Aprendo contigo.
    Eu sempre disse isto desde que nos conhecemos.

    Forças, amigo.
    Esse é o mal do século.
    Precisamos aprender a lidar com Alzheimer.

    Muito carinho,

    Mai

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  13. Caro poeta!

    Agora você me pegou de jeito. Caramba! Isso é refinar a arte de escrever. Minha mãe teve Alzheimer, durante cinco anos e foi salva do triste final por um infarto.

    Vivi, ou re-vivi cada palavra intensamente. Riquíssimo poema-real.

    Aguardo um sobre o Mal de Parkinson, que levou meu pai.

    Beijos

    Mirze

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  14. Ah, Mirze,

    uma grande amiga foi acometida do mal aos 51 anos, coisa rara, mas violentíssima, e isso me fez escrever os 4 poemas dessa série.
    Fiquei triste e revoltado.
    Mas, o tempo me vai ensinando a serenidade.

    Abç fra/terno.

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Grato pelo comentário. Receba o meu abraço fraterno e volte sempre!