CANTEIRO DE OBRAS:

quinta-feira, maio 22, 2008

Tupã m'tói



No princípio era o medo, pavor original...
*
Verde lama genésica, pântano mítico,
profundo e verde Tempo Anterior...
*
Um nume tremeluz sobre a maré sombria.
Relampejam augúrios do Trovão:
Fulgurações aórgicas, protopoíesis.
Undialvas palavras acopladas
na aurora da forja transumana.
*
Eis o nada que é tudo!
Coruscante, rasga os céus
um grito brilhante e abrupto.
O estrondo vivo de Deus
ab absurdo.
...


Eurico
poema sem data

12 comentários:

  1. Grande Eulírico!

    Eis que me vejo de "TUPÃ M´TOI". Não sei o exato significado (creio que de origem indígena...). No entanto,neste momento, prefiro ter este título como uma subliminar e agônica tentativa de dizer o que de atávico nos consome.

    Eis o nada que é tudo!
    Coruscante, rasga os céus
    um grito brilhante e abrupto.
    O estrondo vivo de Deus
    ab absurdo.

    ...

    Com os que habitam no cerne da terra profícua convivi,
    Com eles, de relevos engravidei-me...
    Com eles, de planícies e planaltos inundei-me...


    Com a clivagem dos metais me fiz,
    Com ela, a vida me foi parida aos pedaços...
    Um despedaçar sem fim...


    Agora, só estou:
    Na alma, um fugidio e indelével relevo...
    Ancestralidade que o nada sedimenta...


    Agora, só estou:
    Na alma, a dolente e primeva clivagem...
    Ancestralidade que o tudo cinde...


    Agora, só estou:
    Um quase nada:
    Um relevo que não se diz,
    Uma clivagem que não se faz...


    Agora, só estou:
    Silencio ante o que ensurdece...
    Disperso-me ante o que unívoco se pretende...


    Agora, só estou:
    E a alma, deabulante, esvai-se,
    Esvai-se por entre as inóspitas caatingas...

    DiAfonso

    Abração! PAX ET BENE!

    ResponderExcluir
  2. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  3. Grande, Mestre!
    Sim de origem indígena e mítica.
    O que significa não importa, mas o que provoca em ti essa palavra: Tupã m'tói pode ser Deus, Alah, ou o que seja...ab origene, ab ovo. rsrsrs

    ResponderExcluir
  4. Adoro sonhos, de Kurosawa, e muitos outros filmes dele, como Dersu Uzala.
    Temos empatia, eu lhe disse.
    Postei sobre um filme que a gente vê mais de uma vez. Passa por lá:
    wwwrenatacordeiro.blogspot.com/
    não há ponto depois de www
    Beijos,
    Renata M. P. Cordeiro

    ResponderExcluir
  5. Querido amigo!

    Que poema, hem? A começar com o título. Eis que o nada é tudo... um grito brilhante rasga os céu... Lindo, diferente, especial. Deixo que Quintana fale por mim:

    Não tem porque interpretar um poema. O poema já é uma interpretação.

    ResponderExcluir
  6. Ilaine, amiga, pois é, é a minha luta pra dizer o indizível. Foi o Pessoa quem disse isso:
    "o mito é o nada que é tudo".
    O Carlinhos te convida a ir ao Sítio. O teu filho Matheus ainda está mexendo com a paisagem por lá.
    rsrsrs

    ResponderExcluir
  7. Vou tentar comentar...rs
    Bjs.
    Dora

    ResponderExcluir
  8. Caro Eu-lírico. Não interpreto poema. Mas, dialogo com ele. E vou dizendo o que ele desperta ou exacerba em mim.
    Esse poema "Tupã m´tói" é grandiloqüente. E traz uma visualização( além da fotografia que o ilustra...) na própria leitura dos termos escolhidos.
    Vislumbrei a quietude do "pântano mítico" e, lentamente, veio a sensação de um prenúncio de algo avassalador, culminando nos "augúrios do Trovão".
    E, num átimo, o Gênesis "tupi" se faz pela voz e pelo brilho do Deus-Trovão! O absurdo de antes se transforma agora em "criação" e o "transumano" ganha Humanidade.
    Isso não é interpretação. É minha leitura "lúdica", subjetiva, pessoal.
    Um enorme abraço.
    Dora

    ResponderExcluir
  9. Dora, vc sempre devassa os meus textos como se fossem translúcidos, o que me alegra muito, já que a Lobinha diz que sou hermético demais. rsrsrs
    Grato, sempre fico muitíssimo grato pela tua visita ao Eu-lírico.

    ResponderExcluir
  10. Compadre Eurico, a tua persistente busca pela mythoi brasílica, ou mesmo universal, ecoou lá no Sítio d'Olinda. O Brennand apareceu por lá com aquelas enormes carrancas de cerâmica, a comentar sobre uma visão ancestral do escritor Thomas Mann. Apareça por lá e veja a sintonia que há entre o que buscas e o que diz Brennand.
    rsrsrs

    ResponderExcluir
  11. muuuuuito bonito isso!
    ou é o vinho que eu tomei! :)re,re

    ResponderExcluir
  12. É o vinho, amiga, é o vinho... hehe

    Esse tupã mitói é fruta de uma busca doentia pelas origens. Coisa que acho já está curada em mim... eu acho. rsrsrs

    ResponderExcluir

Grato pelo comentário. Receba o meu abraço fraterno e volte sempre!